Por Blog do Alpanir Mesquita.
Em mais uma edição da coluna "Vargem Grande de Ontem", que irá ao ar na manhã de todos os domingos e que foi idealizada pelo Titular do Blog, voltaremos aos anos 70 e mais especificamente ao período carnavalesco quando desfilava pela cidade o Bloco de Sujo.
O Bloco de Sujo era totalmente diferente de tudo que existia na cidade até então, pois os carnavais eram marcados por bailes em clubes tradicionais, como por exemplo o Grêmio Cultural e Recreativo Vargem-grandense (ou Duzentos ou ainda Maçonaria) e o Caçador. Mas, os integrantes do Bloco saíam as ruas fantasiados com perucas, saias e até mesmo com folhas de bananeiras. Na maioria das vezes se sujavam com argila para em seguida irem até os comerciantes locais, que sempre os presenteavam com litros de cachaça. Destacavam-se Dr. Ribamar Bicão, Ferreirinha Filho, Ramar Sousa, Zé de Fátima, Regis e Zezito Viana, Edilson do Milagrense, Tonho da Sinhar Melo, Berilo Carvalho e demais.
Um dos brincantes, o apresentador e jornalista Zé de Fátima, nos encaminhou um artigo mostrando com mais detalhes como era produzido o Bloco de Sujo. Vejam:
O bom da vida é saber vive-la. E viver intensamente foi sempre o princípio que norteou os integrantes do Bloco de Sujo de Vargem Grande. A nossa forma de ver a vida estava expressa nas letras da música que deu origem ao mais original de todos os blocos da cidade, O BLOCO DE SUJOS. O carro chefe do bloco dizia na sua letra assim: Olha o bloco de sujo/ Que não tem fantasia/ Mas que traz alegria/ Para o povo sambar/ Olha o bloco de sujo/ Vem batendo na lata/ Alegria barata/Carnaval popular/ Bate,bate,bate, bate a lata/ Bate, bate, bate, bate a lata/ Que não tem tamborim. Bate, bate, bate, bate a lata/ Bate, bate bate, bate a lata/ Carnaval é assim.
E era assim, fugindo a tradicionalidade, e a tudo que era comum, fizemos algo de diferente. Os ensaios eram quase sempre a noite. Não tinha lugar certo. Após o jogo de bola no campo do Carnaubal, no caminho para casa ficava definido onde iriamos nos reunir após deixarmos as namoradas em suas casas. Era comum as reuniões acontecerem na casa do seu Rubens Carvalho, na casa do seu Bité, ou ainda na residencia de seu Ferreirinha.
A energia elétrica era desligada e aí ficávamos nos devaneios. De como seriam os nossos próximos passos, nossos projetos para apresentarmos de novo para a sociedade. E aí depois de muita discussão sobre o assunto e alguns goles de cachaça Praianinha, voltávamos para nossas residências para o esperado repouso. Como confeccionar as fantasias. Todos tinham liberdade de fazer da sua própria criação a forma de expressar a sua revolta, indignação ou satisfação pelo momento. Tudo muito original.
Nos dias de sairmos, nos juntávamos na casa que fosse escolhida pelo grupo e depois de uma boa refeição matinal, seguíamos nosso destino, para cantar e extravasar. Os comerciantes, quase sempre nos esperavam com um sorriso, acompanhado de um litro de cachaça e uma lata de talco. Maisena naquela época, fazia parte do cardápio dos irmãos menores. Servia para fazer o mingau ou a papa. Uma grande maioria preferia saias ou vestidos de sacos de estopas e outros de calção mas cobertos com folhas de bananeiras. Mas não podia sair de cara limpa. Tinha que estar com o rosto sujo para se apresentar a sociedade. E aí se não tinha chovido, jogávamos água no chão da argila e aí para então nos lambuzar. Os que tinham maior poder aquisitivo compravam perucas de fibra nas lojas da dona Chiquita ou dona Maroca. Os outros fabricavam perucas de rabos de cavalo. Nem tamanco, nem tênis nem sapatos, a ordem era todos descalços.
E não posso negar foi no bloco de sujo que despertamos o sentido do companheirismo. Tudo era de todos. Exceto as namoradas. Quanta saudade daqueles tempos.
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