domingo, 16 de abril de 2017

Vargem Grande de Ontem: As Paixões de Cristo e o Espírito da Páscoa...

João Batista (Domingos Tourinho) batisma Jesus Cristo (Ronaldo Reis).
Por Blog do Alpanir Mesquita.

Em mais uma edição da coluna "Vargem Grande de Ontem", que irá ao ar na manhã de todos os domingos e que foi idealizada pelo Titular do Blog, aproveitaremos o clima de Páscoa para voltarmos aos anos de 1999 e 2000 para olharmos como foi idealizada e realizada as encenações da Paixão de Cristo (Via Sacra) no município.

A peça teatral foi realizada pela Prefeitura Municipal, que na época tinha como prefeita Ana Maria Nascimento Fernandes, a Dra Ana, que além de gestora, também foi atriz. A produção executiva ficou na responsabilidade da então secretária de Educação Irmã Inês Sanches e a idealização do projeto, bem como a produção em geral, estava nas mãos da diretora do Departamento de Cultura da Secretaria de Educação, Ana Socorro Ramos Braga. A direção ficou por conta de Silvana Cartágenes (1999) e de Bill de Jesus (2000). Destaca-se também a brilhante atuação de Ronaldo Reis como Jesus Cristo. Sem dúvidas, ele deu um verdadeiro show.
Dra Ana ao centro e elenco.
Pensando em passar mais detalhes ao leitor, o Blog conseguiu dois importantes depoimentos. O primeiro de Domingos Tourinho, que interpretou Pôncio Pilatos e João Batista em 1999 e somente João Batista em 2000 e da diretora do Departamento de Cultura da Secretaria de Educação, Ana Socorro Ramos Braga.

Vejamos:

DOMINGOS TOURINHO
GRADUADO EM EDUCAÇÃO ARTÍSTICA E HABILITADO EM ARTES CÊNICAS - UFMA
PÓS GRADUADO EM ORIENTAÇÃO, SUPERVISÃO E GESTÃO ESCOLAR - CAPEMA
ATOR E DIRETOR TEATRAL

Domingos Tourinho como João Batista.
Nada me proporciona mais prazer na vida do que representar. Dito assim, parece pouco, pois o exercício ativo do ato de "viver o papel", está recheado de vivências variadas e profundas. Mesmo nós, na vida cotidiana, já experimentamos isso, na maioria das vezes, de forma inconsciente. Mas na função de ator/atriz, experienciamos um processo estudado e consequentemente planejado com consciência. O encanto, inicia no convite para participar da montagem de um espetáculo. É um espetáculo, mesmo antes de sê - lo. Ativa em nós o ser criativo que somos, desde a capacidade de absorção do texto literário até o resultado final, quando verticalizamos esse texto, transformando-o em teatro, em vida pulsante prenhe de sensações, proporcionando emoções a outrem - nossa plateia - quando termina, ocasionando a catarse. 

Foi assim, em Vargem Grande, ao receber o convite feito pela diretora do Departamento de Cultura da Secretaria de Educação, Ana Socorro Ramos Braga, para participar como ator de um espetáculo da Paixão de Cristo, onde mais tarde, a referida diretora, desempenharia também, as funções de assistente de direção e produtora daquele projeto cultural do município. A pasta da Educação estava a cargo da Irmã Inês Sanchez, excelente parceira e grande entusiasta desse trabalho e a Prefeitura sob o comando da competente Dra. Ana Maria, gestora impecável, inclusive fazendo questão de participar como figurante do espetáculo, o que vale dizer que "vestiu (literalmente) a camisa" do projeto.

E nos mudávamos para lá todos os finais de semana, nos dois meses que antecediam a Semana Santa, para fazermos os ensaios da Paixão, no começo do ano de 99, com Silvana Cartágenes na direção e, no ano 2000, sob a "batuta" do saudoso Bill de Jesus como diretor. 







Grande atuação de Ronaldo Reis como Jesus Cristo.
Eu faria na primeira montagem, João Batista e Pilatos, e no ano seguinte, somente João Batista. Foram experiências ímpares, pois nos colocamos à disposição dos trabalhos, com um "mundo" de pessoas de todas as idades e vivências, pois eram mais de 400 pessoas envolvidas. Que aprendizado! Isso mesmo. No fazer teatral não ensinamos nada. Trocamos experiências. O teatro nos ensina a conviver melhor. Logo o grupo que se nos apresentou desconhecido num primeiro momento, no outro, através de jogos cênicos e lúdicos, já éramos família. E família, penso eu, age em conjunto na busca de um mesmo objetivo. A "família do teatro" é constituída de seres pensantes, portanto, transformadores. Discutimos, estabelecemos regras, determinamos funções, divergimos, erramos (graças a Deus!), para logo em seguida nos afinarmos, levando o melhor de nós, a excelência como resultado estético para outra família - o expectador. Assim sendo, transformamo-nos a nós mesmos (dentro das circunstâncias propostas), atingindo e contagiando os nossos interlocutores. Só assim cumprimos a função primordial do teatro: informar e divertir.

Espero voltar a Vargem Grande para revitalizar os laços da extensão dessa minha família teatral. Agradecido!

ANA SOCORRO RAMOS BRAGA
GRADUADA EM EDUCAÇÃO ARTÍSTICA - UFMA
MESTRA EM POLÍTICAS PÚBLICAS - UFMA
DOUTORANDA EM TEATRO - UDESC

Ana Socorro Braga e Domingos Tourinho.
Em nenhum momento de minha vida estudei tanto a Bíblia Sagrada, rezei tanto para um projeto dar certo, trabalhei com tanto afinco para que ele se realizasse. Foram dias de angústia e enfrentamento das muitas resistências de pessoas que não acreditavam (ou não aceitavam) que aquele projeto tivesse exitoso. 

Silvana Cartágenes era, como ainda é, forte, sensível e muito determinada. Ao aceitar o meu convite ele se mostrou muito competente para lidar com grande número de pessoas, que era uma característica rara naquela época de teatro de grupo, fechado e com poucos participantes. Sua experiência de atriz e de direção permitia que ela trabalhasse com o caos, encontrando saídas, estudando muito e esquematizando os planos de cena, de direção. Cabe mencionar que, a exceção dela mesma e de Domingos Tourinho quase todos eram iniciantes no palco, e era essa a intenção do projeto, dar acesso à experiência do teatro ao maior número de pessoas. Assim, sem nunca dizer não nem fechar as portas a ninguém, entre uma ação e outra nós rezávamos muito para que tudo desse certo. 

A Irmã Inês Sanchez, que na época era a Secretária de Educação, não media esforços para nos ajudar, envolvendo-se pessoalmente em todas as atividades, especialmente na compra dos materiais para a confecção dos cenários e figurinos. Cabe mencionar que formávamos equipes encarregadas da preparação do figurino, cenário, iluminação e figurino. Algumas famílias também contribuíram disponibilizando suas casas para servir de camarim para os atores. Este é o caso de D. Gerviz e Amadeo Pontes, que acompanhavam os atores providenciando o que fosse necessário para que não lhes faltasse nada. 

A iluminação era feita por Índio, iluminador da Companhia Circense, que se desdobrava para dar conta da luz nos palcos distribuídos em diferentes ponto da cidade. Os cenários foram feitos por Francisco Ewerton, o Chiquinho, o mesmo que nos ajudava na decoração do carnaval e dos andores de São Raimundo e São Sebastião no período do festejo. A secretaria de transportes e obras providenciava a montagem dos palcos, assim como assessorava o índio para que ele acessasse os pontos de iluminação pública. José de Ribamar não pode deixar de ser mencionado, pois desdobrava-se para atender aos nossos pedidos malucos. Em alguns caso contávamos com caixas de som, em outros, um carro de som fazia a sonorização. 

Conceição Mesquita no papel de Legionária.
No ano 2000, por motivos pessoais Silvana não pode dirigir e eu convidei Bill de Jesus, que era uma pessoa de teatro com larga experiência no município de Arari. A grande alteração quando houve a mudança de direção, de Silvana em 1999, para Bill de Jesus, em 2000, foi na sonorização. Ele introduziu as falas gravados antecipadamente, assim como a trilha e os efeitos de sonoplastia. Isso influenciava o desempenho expressivo dos atores e o tempo/ritmo da encenação, contudo ampliava a projeção das vozes.  A outra alteração foi de roteiro. A primeira cena, o Batismo de Jesus, realizado pelo personagem João Batista (Domingos Tourinho), por exemplo, foi feita na frente do colégio Politécnica no primeiro ano. No ano seguinte, essa cena foi realizada no açude velho. João Batista (Domingos Tourinho), chegava em uma canoa, o que causou forte impressão no público. Outra cena de forte comoção e beleza foi a da ressurreição, realizada na torre da igreja matriz. Cabe fazer jus a participação especial do professor Valbercy para que os efeitos especiais funcionassem encantando os espectadores antes que os fogos tomassem conta da emoção.

Como resultado, praticamos um teatro de rua envolvendo a cidade em sua elaboração, entusiasmo e participação. Envolvemos as pessoas em grupos de trabalho, como por exemplo, as escolas de ensino médio (onde passei de sala em sala convidando os jovens para participar), o grupo de estudo bíblico, os grupos de I e II da Crisma e as Legionárias de Maria, professores e professoras e funcionários, mas foi, sobretudo, a comunidade vargem-grandense que acreditou no Projeto e se envolveu em sua realização, mostrando com isso que, para reviver a experiência da morte e ressurreição de Jesus Cristo, é necessário muita união coletiva, bem como o exercício de perdoar, cair e levantar, ter fé e acreditar que é possível amar assim como ele amou.

Sou eternamente grata por essa experiência que me fez descobrir o teatro de rua e optar por trabalhar com não atores. E isso, além de dar aulas, é o que faço hoje.  Tenho o dever de lembrar que os grupos de jovens vargem-grandenses continuam fazendo a Paixão de Cristo (Via Sacra) na Semana Santa, a maior parte das vezes sem apoio institucional, e que eles precisam do da nossa união para que deem continuidade a esse trabalho que tanto enriquece a nossa fé e nos une como comunidade religiosa cristã. 

Como contribuição para a história do teatro em Vargem Grande, disponibilizo abaixo a ficha técnica de 1999. Peço desculpas por omissões e ou erros de digitação.

Dra Ana, prefeita à época, vestiu a camisa literalmente.
Povo - Hildelene, Niris, Maria de Fátima, Maria Denise, Maria Lindalva, Maria Cirene, Juliana Melo, Maria Francisca Souza, Antônia Silva, Maria José, Cleiciane, Elizângela, Maria Antônia, Linamara Lima, Luciana, Elidiane, Josely, Ana Célia, Elismar Ney, Alzirene Alves, Sandréia, Fabrícia, Angela, Maria Bestilla, Elenilde, Nadilene, Maria do Carmo, Tatiana, Bárbara, Flaiane, Socorro, Otávio Conceição, Orlanilde, Simone, Euzilene, Adriana, Euliane, Izaneude, Maria Eliane, Sebastiana Fernanda, Rosilene, Geovana, Divina, Bruna, Carla, Gillane, Mõnica, Luzenilde, Márcia, Maria Francisca, Maria da Luz, Kassilene, Cleide, Raimundo Alves, Maria Angra, Maria José, Anísia, Valterlina, Maria da Piedade, Maria Ilma.

Soldados - (Pelotão I) Marko Diovanni, Roberto Gutemberg, Geovani marcos, Ronilson Silva, Antônio Carmo, Raimundo Nonato Moraes, Raimundo Araújo, Pedro Moraes, Francisco Conceição, Valteny dos Santos. (Pelotão II) - Robson Souza, Edjane Rocha, Jorge Eduardo, Márcio do Lago, Antônio Póvoas, Vanderlan Novaes, Maurício Rodrigues, Luís Augusto, João Francisco, Fábio Barros. (Pelotão III) Carlãn Novaes, Antônio Lima, Rafael Átila Reis Araújo, Joeberth da Silva, Anderson Kleyton, Charles da silva, Jardel Martins, Matias Almeida, Pedro Julião, Thales da Silva Rocha, Francisco Douglas.

Mercadores - Nildo Cássio, Luzilvan, Jorge Luís, Fernando Gomes, Cláudio Silva, Sanclair, Thiago, Francisco de Carvalho, Vinícius, Nonato da Costa, Sérgio Martins.

Compradores - Sebastião, Josimar, José Raimundo, Sebastião Passos, rafael santana, Valbeny Gomes, Nonato Moraes, Antônio dos Santos, Vanderson, José Raimundo, Antônio Alessandro, Josimar Silva, Leandro.

Mulheres de Cristo (Legionárias e outras) - Dolores Chaves, Detinha Mesquita, Elenir Melo, Fátima Souza, Erotildes Caldas, Raimunda Araújo, Maria dos aflitos, Maria das graças, Maria oliveira, Zenir santos, Socorro Magalhães, Sebastiana Lago, Goreth Gomes, Bernardina Moraes, Maria da Graça, Maria das Graças Oliveira, Raimunda Nonata Salgado, Concita Ribeiro, Dulce Braga, Joana Santana, Julia Lima, Dionísia, Naíse da silva, Sebastiana garreto, Josefa Costa, Maria do Dim, Maria Diamantino, Ricardina Martins, Francisca Paiva, Isaura Carvalho, Feliciana Santos, Feliciana Cardoso, Conceição Mesquita, Dra Ana Maria Nascimento.

Coral - Lucinete Martins, Francione da Silva, Marjorie Mesquita, Mariazinha Miranda, Licilene Chaves, Fabiane Moraes, Francisca santos, Hilda Dias, Ana Carvalho, Maria Auridenes, Ana Célia, Iolanda Silva, Josieth Silva, Maria do socorro silva, Chiara Imelda, Ir. Fidelis (Regência),

Crianças - Isadora Braga, Sebastião Silva, Raimundo, Guilherme Mesquita, José de Ribamar Pereira, Junior Mesquita, Camilla Dayana S. Portela, Jessica Vilena Portela, Bruna Mesquita, Paulo Henrique S. Silva, Luanna Priscila S. Silva.

Membro do elenco.
Apóstolos - Antônio de Pádua, Miguel Bezerra, Carlos Murilo, Wlabercy Moura, Alex Maico, Antônio José Silva, Waldeny S. Gomes, José Vicente, Carlos magno, Francisco Barbosa, Raimundo Lago, José Póvoas.

Jesus Cristo - Ronaldo Reis
Pôncio Pilatos e João Batista - Domingos Tourinho
Caifás - Plácido Farias Cunha
Barrabás - Cláudio Nunes
General Quinctilius  - Abdalla
Cláudia Prócula (Esposa de Pilatos) - Márcia Socorro Portela
Mulhereres e Escrava - Janaina Silva, Lídia Magalhães, Maria de Fátima Queiroga
Sirineu - Antônio Hélio
Mulher Cega - Ana Souza
Madalena I e II - Nádia Trabulsi e Cleudimar Vieira
Mulher Cananéia - Maristela Moraes
Samaritana - Aurelice Pires
Marta - Socorro Gomes
Verônica - Auricélia Pires
Ladrão I e II - Erisvaldo Melo, Levi Teixeira

Equipe Técnica e de Produção

Direção Geral - Silvana Cartágenes (1999) e  Bill de Jesus (2000)
Assistente de Direção - Ana Socorro Ramos Braga
Direção de Ensaio - Ana Maria (Bia), Euricélia
Assistente de Figurino - Cintia Luelli, Rita Mesquita, Alice Pires
Assistente Cenotécnico - Mundico Gomes, Emanuel Messias Gomes, José Vicente
Suporte de infraestrutura - José de Ribamar Mesquita 
Iluminação - Indio (João Souza)
Apoio - Maria Ofélia, Onélia Corrêa, Guimarães, Alice Pires, Nini Barros
Concepção Figurino - Silvana Cartágenes, Ana Socorro, Irmã Inês
Projeto e Produção Geral - Ana Socorro Braga
Produção Executiva - Ir. Inês Sanchez
Realização - Prefeitura Municipal de Vargem Grande 

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