segunda-feira, 21 de maio de 2018

“Saímos de lá para ter um trabalho justo", diz africano resgatado no Maranhão

“Saímos de lá para ter um trabalho justo, honesto e ter dignidade. Melhores condições de vida, esse é o nosso sonho”, disse com o olhar esperançoso Muctarr Mansaray, de 29 anos, estudante de Letras e que estava no grupo de estrangeiros resgatados no cais de São José de Ribamar, na noite do último sábado (19).

Resgatados estão recebendo atendimento na área de saúde
e documentação. [Foto: Carlos Pereira]
Do outro lado, está o seu Moisés dos Santos, um dos pescadores da embarcação que encontrou o catamarã a deriva em alto-mar. “Eu nunca tinha visto uma situação dessas, eles estavam desorientados, com muita sede e fome, mas também estavam agradecidos por que nós os encontramos e logo dividimos a pouca comida que ainda restava no nosso barco, essa não é uma história de pescador”, contou ele.

O grupo formado por 25 estrangeiros de quatro nacionalidades (Senegal, Serra Leoa, Guiné e Nigéria) e dois brasileiros foi encontrado por uma embarcação de pescadores do Ceará a 120 km da costa maranhense. O grupo foi recebido no cais de São José de Ribamar, município da região metropolitana de São Luís, por uma operação montada pelo Governo do Maranhão em conjunto com a Polícia Federal e a Marinha do Brasil. 

De acordo com relatos dos africanos, a viagem partiu de Cabo Verde em um catamarã em condições precárias, com motor de pouca capacidade e com a intenção de chegar ao Rio de Janeiro e São Paulo. Durante o trajeto, o aparelho de GPS que estavam em poder dos tripulantes quebrou. Em seguida o motor da embarcação não suportou a extensão da viagem e logo parou. Por fim a opção de usar a vela do catamarã foi frustrada quando ela também quebrou. A tripulação permaneceu um total de 35 dias ao mar, após ficarem à deriva foram encontrados por uma embarcação de pescadores.

Resgatados estão recebendo atendimento na área de saúde
e documentação. [Foto: Carlos Pereira]
Desde o comunicado, o Governo do Maranhão montou esquema para assistir os estrangeiros e as primeiras providências foram tomadas ainda no Cais de São José de Ribamar, onde foram realizados os primeiros atendimentos médicos, servidas refeições e água, com apoio da Empresa Maranhense de Administração Portuária (EMAP), que administra o espaço em parceria com a Prefeitura de Ribamar. A equipe multidisciplinar do Centro Estadual de Apoio às Vítimas (Ceav) também esteve prestando apoio psicológico. Em seguida foram atendidos na Unidade de Pronto Atendimento do Araçagi, na madrugada de domingo (20), apresentando quadro de desidratação.

Em conversa com Muctarr Mansaray, ele revelou que está se sentindo em casa. “Estamos muito felizes por todo acolhimento que estamos tendo aqui! Os médicos, as refeições e o tratamento de todos os profissionais com a gente tem sido excelente, estamos muito gratos com o apoio do Governo do Maranhão, nunca tínhamos tido um atendimento tão eficiente”, afirmou.

Nesta segunda-feira (21), representantes da Polícia Federal estiveram reunidos com os africanos, no Ginásio Costa Rodrigues, em São Luís. A eles foi explicado que o órgão vai dar entrada na solicitação de refúgio para todos. Além disso, vão receber uma documentação que vai servir para a retirada de documentos posteriores como a carteira de trabalho. Todos serão regularizados e poderão trabalhar e exercer os direitos civis aqui no Brasil como estrangeiros. Organizados em grupos de cinco eles estão sendo ouvidos pela Polícia Federal.

A Sedihpop está colaborando tanto no apoio à Polícia Federal, disponibilizando intérpretes para a realização dos depoimentos quanto aos próprios imigrantes, no sentido de auxiliar na organização da documentação para a regularização das suas situações no país.

Encontro com conterrâneos

Senegalês Samba Traoré (de camisa vermelha) mora há 3
anos em São Luís e foi visitar o grupo. [Foto: Carlos Pereira]
A segunda-feira resultou, ainda, em um encontro especial. Por meio de conhecidos e pessoas próximas, o senegalês Samba Traoré, que mora aqui em São Luís há três anos, recebeu a informação da chegada dos seus conterrâneos e resolveu ir até o Ginásio Costa Rodrigues prestar sua solidariedade e ajuda. 

“Eu fiquei muito feliz de encontrá-los aqui. Feliz de ver o jeito que foram recebidos, isso mostra que o Brasil e o Maranhão estão de portas abertas. Moro aqui há três anos e não sofri nenhum tipo de preconceito, nenhuma maldade. Conversei com eles e estou vendo que eles estão felizes de terem sido tão bem recebidos. Volto para minha casa hoje e vou voltar feliz, sabendo que eles estão em boas mãos, então eu agradeço muito ao Governo do Maranhão e a toda a equipe que está ajudando eles”, disse contente.

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