segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Nini Barros, 93 anos de história e de dedicação ao povo de Vargem Grande

Nini Barros com irmã Luciana Tognon, e sua grande amiga,
de saudosa memória, Elizabeth Frick.
Por Blog do Alpanir Mesquita.

Nini, que foi batizada pelo nome de Eurídice Garret Barros, nasceu a 20 de novembro de 1924, em Vargem Grande, Maranhão. 

Ela descende de família tradicional e fervorosamente católica. Seu pai, Luís Gonzaga de Barros, foi comerciante abastardo, político e colaborador da Igreja. Era na casa dela que ficavam hospedados os padres quando a cidade não tinha um vigário permanente nem uma casa paroquial. Vivendo desde criança nesse ambiente de cooperação com a igreja católica ela começou a ajudar nos afazeres da igreja até se transformar na principal porta voz do sistema de som que ficou conhecido com A Voz do Santuário. São alto falantes posicionados no alto da torre da igreja que informam aos habitantes a programação da Igreja de São Sebastião nos dias ordinários e, nos dias de festa, anunciam e organizam a procissão, fazem as alvoradas festivas com músicas, ainda servem como utilidade pública comunicando achados e perdidos, roubados ou ainda os pontos de encontro e horários de saída das inúmeras caravanas de romeiros. Ao longo do tempo este veículo de comunicação foi apropriado pelo povo que para fazer todo tipo de comunicado como a perda ou roubo de um objeto, por exemplo. Os termos "bota na Nini" ou “põe na Nini” são conhecidos como indicação de que para algo ter conhecimento público é necessário passar pela voz da Nini que, por sua vez, dá a cada anúncio um toque especial, que só ela saber fazer.


Nini com o deputado Fábio Braga.
Ao nível das relações, Nini tornou-se uma espécie de mediadora entre os padres, os romeiros e o poder político local, pois São Raimundo de Mulundus traz gente de muito longe. Era ela quem recebia os pagadores de promessas que batiam à sua porta para que abrisse a igreja e o pagamento de promessa fosse feito. No entanto, o atendimento requeria que a joia, no mínimo, correspondesse ao valor do sacrifício de abrir a igreja fora do horário regular. Além disso, por meio da voz do santuário, ela ainda hoje reclama da falta de energia ou de água em algum bairro e chama à responsabilização a autoridade competente no assunto. Solicita ainda que o som dos carros que ficam na praça da Igreja respeitem o horário da Missa, bem como o sono dos padres e da vizinhança. Assim ela toma para si as angustia e necessidades do povo fazendo como se fossem também suas as inúmeras urgências que lhe chegam às mãos para que, por meio de sua voz tornem-se do conhecimento de todos da cidade. Por isso mesmo inúmeras piadas circulam sobre este assunto fazendo deste função um patrimônio dos vargem-grandenses.


Residência de Nini, onde funciona um centro da memória
e da história de Vargem Grande.
Durante mais de trinta anos ela, que tinha como renda financeira apenas uma pequena aposentadoria como agente administrativo, criou, ao lado de sua residência, um pequeno estabelecimento para a comercialização de cerveja, refrigerante e caldo, o famoso e saudoso Caldo da Nini. Além de ser um lugar para matar a ressaca, foi um ponto de encontro, de debates, de atualização política e de confraternização, principalmente de jovens da esquerda vargem-grandense. Não por acaso o bloco tradicional Couro de Bode fez dela sua presidente de honra.

Solteira, ela não tem filhos, no entanto são muitos filhos que ela incentivou, apoiou e protegeu. As gerações de vargem-grandenses lhe rendem homenagem neste dia pela passagem dos seus 93 anos.

**Colaboração Ana Socorro Ramos Braga

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