quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Faculdade do Baixo Parnaíba realiza homenagem ao Professor Arno Kreutz

Homenagem ao Professor Arno Kreutz.
O auditório da Faculdade do Baixo Parnaíba (FAP) se encheu de emoção na noite desta quarta-feira (04) durante a homenagem póstuma organizada pela instituição ao professor Arno Kreutz.

Falecido no mês passado aos 85 anos, Arno Kreutz ganhou destaque no Maranhão como um dos formuladores do projeto João de Barro, na década de 1960. “Ele já era um nome conhecido na educação quando eu me elegi e o procurei para me ajudar a abrir este campus da UFMA”, lembrou o ex-prefeito de Chapadinha José Almeida em vídeo produzido para a educação.

O episódio aconteceu em 1984, quando quatro chapadinhenses foram aprovados no vestibular da Universidade Federal do Maranhão e o professor Arno veio para o município ajudar a formar a primeira turma da história do campus com mais uma dezena de alunos.

Também na UFMA, em São Luís, Arno Kreutz foi professor da diretora de Ensino da FAP Nony Braga, marcando sua formação a ponto de ter sido homenageado por ela no nome da entidade mantenedora da FAP, o Cresu (Centro Regional de Ensino Superior Arno Kreutz). “Ele é a nossa referência, ele não era, ele é! O físico dele não está conosco, mas a voz dele ecoa nos nossos saberes e fazeres”, afirmou a professora. “Ele tinha uma voz pausada, atenciosa. Ele mais ouvia do que falava, e quando falava deixava bem claro o cuidado dele em orientar o outro”, completou.
Professora Nony Braga.
O ato contou com a presença de Álvaro Kreutz, filho do professor Arno, e com o pronunciamento de outros alunos e professores e conviveram com ele.

Confira na íntegra o texto escrito pela professora Nony em homenagem ao professor Arno Kreutz:

À Comunidade Educacional do Alto Munim e Baixo Parnaíba,
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Segundo Mário Quintana: “... nada nasce do ar...”

Acreditamos que a identidade profissional do professor configura-se nas marcas históricas da sociedade de um tempo, transpassada pelas subjetividades de cada um, mediante as experiências e sentimentos de homens e mulheres que nascem com missões a cumprir, nascem dessa vontade para atender aos reclames de viver a vida. Compreendemos que os atos e os laços eternizam nossas vidas, sobretudo no ofício de ensinar e aprender, portanto, nada nasce do ar, como diz Mário Quintana.

Assumimos, então, o compromisso de conviver, alimentando a certeza de que não podemos caminhar sozinhos, buscamos no outro a nossa “alteridade” nesse encontro da força física com a força da alma que traz a escolha do aceite da mão estendida por meio do sorriso, do abraço, da palavra carinhosa, encontrando a generosidade peculiar a nossa condição de existência humana.  Como diz Eduardo Galeano: “[...] somos o que fazemos para transformar o que somos”.

O Professor Arno teve e tem um papel fundamental na vida de muitas pessoas. Sua voz está eternizada nos saberes e fazeres profissionais de gerações que caminharam aprendendo e compreendendo que as lições de seu tempo estão prenhes de ensinamentos que envolvem princípios éticos, dignidade, cidadania e moralidade, associados ao desejo de amar e ser amado, de sorrir e cantar em versos e prosas a beleza de viver a liberdade, plenamente.

O nosso Mestre Arno Kreutz foi um homem emotivo, um sonhador. Nas suas falas encontrávamos sempre uma pergunta, uma indagação, uma crítica reflexiva. Gostava de ouvir músicas maranhenses, apreciava uma boa leitura, adorava conversar sobre política e amenidades. Segundo ele, a bilharina e uma cerveja geladinha, antes do almoço, formavam uma dupla legal. A sua ausência entre nós é percebida, porém, as inúmeras lembranças que temos nos fazem querer compartilhar com os nossos filhos, netos, amigos, alunos e com a atual geração de professores o seu legado. A sua luz e bondade estavam sempre estampadas em seu sorriso manso. Precisamos então, celebrar a sua vida, porque ela é uma inspiração para as nossas humanidades.

Pedagogo pela Universidade Federal do Pará (1962) e mestre em Educação pela Fundação Getúlio Vargas (1982), Professor Arno Kreutz foi um etnógrafo, um antropólogo entusiasta pelos estudos da vida do povo do campo. Investigava as condições e as possibilidades da vida humana no lugar e no tempo. A sua dissertação de mestrado traduz essa assertiva. O objeto de estudo de sua pesquisa foi “As populações rurais do Estado do Maranhão”, tendo como recorte, “o processo de educação integral em nível elementar”, um Projeto experimental do ano de 1967 da Secretaria de Educação do Estado, que objetivava inserir o homem rural no processo de desenvolvimento socioeconômico racionalizado.

No ano de 1970, o Professor Arno Kreutz juntamente com Raimundo Medeiros Lobato, o primeiro Diretor Geral do Centro Educacional do Maranhão (CEMA), Ivo Anselmo Hohn, Jales Costa e José Manuel de Macedo Costa formaram a equipe técnica para implantação do projeto que promoveria o ensino à distância CEMA/TVE. Arno Kreutz foi um profissional à frente de seu tempo, uma pessoa que nos fazia querer estudar, aprender. Professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), foi Chefe de Departamento de Assuntos Estudantis da UFMA, foi um dos idealizadores do Curso de Graduação em Estudos Sociais e do Campi de Chapadinha, desenvolveu projetos de extensão em diversas comunidades dos bairros da cidade de São Luís e do estado, inclusive no município de Nina Rodrigues. Todos os projetos direcionados aos jovens acadêmicos e/ou aos que cursavam o segundo grau, à época. Foi ligado ao Sistema de Educação do Estado do Maranhão e contribuiu como Professor Benemérito da Faculdade do Baixo Parnaíba (FAP) nos primeiros anos de sua implantação.

Diante de tantas contribuições só temos a agradecer a oportunidade de ter caminhado com você, Professor Arno, nesta grande jornada que é a vida. Foram dias... anos.... de lições e de ideais compartilhados com pessoas de universos distintos. As suas memórias estão eternizadas na vida, nos sonhos e esperanças de tantos outros que virão. Hoje, como sua aluna da turma de Pedagogia de 1986 da UFMA e amiga de longas caminhadas, ergo um brinde a sua história. Como diz Rubem Alves: “Ensinar é um exercício de imortalidade”. Porque de alguma forma continuaremos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor assim, não morre jamais...


Chapadinha (MA), 4 de setembro de 2019.

Profª Ma. Nony Braga
Diretora de Ensino da Faculdade do Baixo Parnaíba

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