Geovana Cristina, de 45 anos, faz peças em croché e vende guaraná da Amazônia para sobreviver. |
A fome virou um tema recorrente nos últimos meses. A falta de comida na mesa já atinge, diariamente, 33 milhões de pessoas no país. O número é quase o dobro do que foi estimado em 2020, início da pandemia. No Maranhão, 57,90% da população, tem menos de meio salário mínimo para sobreviver durante o mês, é o que apontou o Mapa da Nova Pobreza, divulgado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Com isso, o estado se tornou o com a maior porcentagem de pobres no país.
Milhares de maranhenses não tem comida garantida na mesa. Sem emprego, muitos se apoiam em ajudas vindas de programas sociais dos governo federais e estaduais ou contam a solidariedade de familiares, amigos, vizinhos e desconhecidos.
Maria Cabral é de Itapecuru-Mirim, mas já vive há 15 anos em São Luís. Aos 39 anos e morando no bairro Janaína, ela conta que atualmente o valor que recebe de auxílio do governo não consegue ser suficiente para cobrir o básico. “Eu recebia só o bolsa-família, 135 reais. Agora passou para o auxílio, que é 400, mas não dá. Dá pra comprar só o gás, pagar a luz e a água. Só isso. A alimentação não dá”, conta.
A dona de casa relata ainda que já passou fome e precisou perder refeições para dar comida à filha Rosalina, de 12 anos, que sofre de epilepsia e depende de medicamentos caros no tratamento. “Tem um que recebi pela FEME (Farmácia Estadual de Medicamentos Especializados), mas nem sempre tem. Agora mesmo não tem, não há previsão e eu não tenho condições de comprar porque só uma caixa é quase R$ 600”, relembra.
Atualmente, Maria mora com a filha e o esposo Dilson, que é pescador, mas não tem renda fixa e também não consegue trabalhar com frequência pela necessidade de estar com Rosalina. “Quem nos ajuda são vizinhos, familiares e alguns amigos. Devido a doença da minha filha, ele [esposo] também não está podendo trabalhar. Quando ela está em crise, sou eu, ele e os vizinhos que ajudam”, relata a mãe.
Em um momento de pandemia e inflação que encareceu o preço dos alimentos, o objetivo agora é tentar conseguir o direito da filha a ter algum benefício social pelo INSS. “O médico me deu um laudo para eu dar entrada em um pedido de benefício para ela, mas o INSS negou da primeira vez e que, se eu quisesse, era para dar entrada em um recurso. Eu entrei, mas já vai fazer oito meses que está em análise e não dão nenhuma resposta”, finaliza.
Busca por alternativas
A situação financeira, que já era apertada, agravou para a família de Geovana Cristina, de 45 anos após a pandemia. A maranhense, que vive no bairro São Francisco, em São Luís, com os três filhos e a mãe idosa, ficou sem o emprego como serviços gerais em uma escola na capital.
Sem o salário de R$ 500 reais, Geovana viu no auxílio emergencial do governo federal a única saída para sustentar a família. "Se não fosse o auxílio, eu iria passar fome. Foi muito difícil não poder receber meu salário e não manter a casa. Foi bem complicado. Passei mais de cinco meses sem receber o dinheiro do meu emprego. As vezes a gente saía para buscar peixe de graça, uma cesta básica que era doada por alguém. Meus filhos pediam as coisas para mim e eu sem poder dar", conta Geovana, emocionada.
Com o agravamento da fome no país, Geovana precisou se virar para tentar garantir o sustento da família somado a isso, ela ficou um ano sem receber o auxílio do governo federal. Uma das alternativas para ela, foi buscar uma renda extra com a venda de guaraná da Amazônia, no terraço de casa, e de peças de decoração feitas em croché. Em média, ela fatura R$ 300 com os extras.
"O meu salário não dá para suprir as necessidades da casa, nossa alimentação. Eu tenho que ficar me virando para sustentar a casa. As vezes meus irmãos me ajudam, meus vizinhos e assim, a gente vai vivendo. Hoje, minha filha também ganha um salário, que é pouco, e também me ajuda um pouco", conta.
Dona de casa, Geovana conta que a alta nos preços dos produtos de alimentação, tem impactado diretamente a vida e a rotina da família. Sem muito dinheiro e com a renda apertada, alguns itens da cesta básica precisaram deixar de ser consumidos devido as condições financeiras.
"Eu geralmente vou na feira porque lá é um pouco mais barato. Mas a gente já deixou, por exemplo, de comer uma carne de boa qualidade por conta do preço. O leite também está muito caro e a gente vai revezando como pode aqui em casa", disse.
Do G1 MA.
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