Weverton e Lula. |
O gesto de Lula, porém, foi cercado de simbolismos.
O ex-presidente participou de um jantar na última terça-feira (4) em Brasília com senadores petistas e apenas um único político de um outro partido —Weverton.
Lula sinalizou um possível apoio à candidatura de Weverton ao Governo do Maranhão, demonstrou força frente ao presidenciável Ciro Gomes (PDT) em uma de suas bases mais promissoras e chacoalhou o núcleo político do governador maranhense, Flávio Dino (PCdoB).
Prestes a encerrar seu segundo mandato, Dino tem sua base aliada dividida entre as pré-candidaturas de Weverton e do vice-governador, Carlos Brandão (PSDB).
Ambos travam uma disputa velada sobre quem irá unir a heterodoxa base de Dino, que inclui partidos que vão do PT ao DEM, na sucessão de 2022.
O governador trabalha pela composição com todos, mas, mesmo que não consiga a unidade, caminha para ser o único candidato ao Senado dessa base, tendo apoio tanto de Weverton como de Brandão.
Dino também mantém negociações para uma possível migração do PCdoB para o PSB.
Outro nome que se coloca como pré-candidato ao governo é o deputado federal Josimar de Maranhãozinho (PL). Localmente, ele integra o grupo de Dino, mas nacionalmente aproximou-se do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Nos últimos meses, Dino tem indicado a aliados querer construir a unidade em torno do nome de Brandão. Atuou para que seu vice deixasse o Republicanos, partido alinhado a Bolsonaro, e voltasse para o PSDB, legenda pela qual foi eleito vice-governador em 2014.
Também estreitou as relações com os tucanos localmente. O movimento mais recente foi a reaproximação com o ex-governador José Reinaldo Tavares (PSDB), indicado para uma diretoria no Porto de Itaqui.
Do outro lado, Weverton acelerou as tratativas com partidos da base aliada em torno do seu nome. Ao longo das últimas semanas, recebeu publicamente o apoio de Cidadania, PSB, PSL e Republicanos. Procurado, ele não respondeu à reportagem.
No plano nacional, Lula trabalha para garantir o maior número possível de apoios ao PT, o que inclui de Dino ao grupo de José Sarney (MDB). Na quinta (6), os dois ex-presidentes da República também se encontraram em Brasília.
Líderes petistas próximos a Lula confirmam que o encontro com Weverton teve maior simbolismo no campo nacional, ao mostrar aproximação com um dos nomes mais promissores do partido de Ciro.
O presidente do PDT, Carlos Lupi, diz que a reunião foi previamente avisada a ele e Ciro e foi vista com naturalidade. "Ele [Weverton] é pré-candidato ao governo e tem que dialogar com todas as forças políticas. Essa aproximação é natural, importante e estratégica."
Aliados de Dino afirmam que a base do governador permanece intacta, bem como a relação de Dino com Lula.
"Não há chance de Lula e Flávio Dino não estarem no mesmo lado na eleição de 2022", resume Márcio Jerry (PCdoB), deputado federal licenciado e presidente da sigla no Maranhão.
A reportagem apurou, contudo, que o PT nacional teria resistência em embarcar em uma candidatura capitaneada pelo PSDB ao Governo no Maranhão. No PT local, por outro lado, não há veto a Brandão.
"Se ele apoiar a candidatura de Lula, não há problema em apoiá-lo para o governo. Queremos o maior número possível de apoios ao nosso projeto nacional", afirma o deputado estadual petista Zé Inácio.
Enquanto a posição do PT na sucessão do Maranhão permanece uma incógnita, Weverton deve tentar atrair para o seu palanque até partidos de oposição a Dino, incluindo o MDB de Roseana Sarney. A ex-governadora já anunciou que pretende se candidatar a deputada federal.
Um possível acerto pode garantir que a família Sarney esteja no palanque de Lula, o que já aconteceu nas eleições de 2010 e 2014, quando o PT maranhense se aliou ao MDB.
Em 2010, os petistas indicaram o vice de Roseana Sarney, que foi eleita derrotando Dino. Quatro anos depois, em nova sinalização a Sarney, os petistas apoiaram Lobão Filho (MDB), mesmo à revelia de parte do diretório local.
Sem o apoio do PT, Dino abriu seu palanque em 2014 para presidenciáveis de partidos aliados como Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (à época no PSB). Acabou saindo vitorioso nas urnas.
Desta vez, o governador atua para manter a mesma unidade que conseguiu em torno de seu nome em 2018. Há cerca de duas semanas, reuniu-se no Palácio dos Leões com Brandão e Weverton para buscar um alinhamento.
Mas o trabalho será espinhoso, sobretudo depois das feridas abertas nas eleições municipais. No ano passado, a base do governador dividiu-se entre cinco candidaturas à Prefeitura de São Luís.
O governista PDT e o oposicionista MDB se uniram em apoio ao candidato a prefeito Neto Evangelista (DEM), deputado estadual que terminou a eleição em terceiro lugar.
No segundo turno entre o oposicionista Eduardo Braide (Podemos) e o governista Duarte Júnior (Republicanos), que teve o apoio ostensivo de Dino, o PDT ficou com o candidato da oposição. Braide venceu as eleições em São Luís, impondo um revés ao governador.
Da Folha de São Paulo.
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