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Africanos seguem recebendo atendimento no Maranhão. |
“Eu me senti muito tocada em ter que ouvir aquelas histórias, na responsabilidade de intérprete, de escrever aqueles textos, reescrever, transcrever a emoção deles contando toda a vida deles, a família que eles deixaram para trás, fiquei profundamente emocionada e ao mesmo tempo tendo que me concentrar para colocar no papel uma informação justa, clara e que venha a ajudar no pedido deles de refúgio”.
O relato é da professora do Departamento do Curso de Letras-Francês, da Universidade Federal do Maranhão (Ufma), Glória França que soube, pelas redes sociais, do caso dos africanos resgatados, no mar, e logo se colocou à disposição para ajudar e convocou seus alunos para a tarefa. Ela e os 13 estudantes voluntários participaram da tradução dos formulários com o pedido de refúgio ao governo brasileiro, orientados pela Polícia Federal.
“Foi um momento marcante para mim, me senti extremamente útil enquanto profissional especialista da língua francesa; estar ali, naquele momento, tentando, de algum modo, ajudar aquelas vidas”, desabafou a professora.
O caso dos africanos resgatados à deriva em alto mar, no sábado (19), em São José de Ribamar, aguçou os sentimentos de solidariedade de várias pessoas. Assim como a voluntária Glória França, muitas pessoas que se sensibilizaram com o caso dos africanos doaram seu tempo e seus conhecimentos compartilhando a solidariedade com quem precisa.
Natural de Serra Leoa, Muctarr Mansaray, de 27 anos, um dos resgatados, contou que foram muito difíceis os dias ao mar, mas que está muito feliz com a assistência Governo do Maranhão e o apoio da população. “Vivemos momentos tristes, passamos fome, sede, pensamos até que seríamos presos, mas, ao chegar aqui recebemos todo esse carinho do povo maranhense. Fomos levados para o hospital, recebemos atendimento médico e eu só tenho a agradecer a todos que nos ajudaram”, disse.
Muctarr Mansaray revelou que saiu de Serra Leoa com a promessa de trabalho garantido e melhores condições de vida. Ele é estudante do curso de Ciências Tecnológicas e sonha terminar os estudos e se sustentar. “Tudo o que eu quero é continuar na universidade. Lá é pago e aqui é gratuito e espero continuar a estudar para poder ganhar meu dinheiro e me sustentar”.
“Estamos muito felizes por todo acolhimento que estamos tendo aqui! Os médicos, as refeições e o tratamento de todos os profissionais com a gente tem sido excelente, estamos muito gratos com o apoio do Governo do Maranhão, nunca tínhamos tido um atendimento tão eficiente”, disse o senegalês, Idrissa Mane, de 28 anos.
Ao oferecer tratamento humanitário aos refugiados, o Governo do Maranhão está cumprindo os tratados internacionais em favor de pessoas que saem de suas terras de origem sonhando com dias melhores para seus familiares. Estão sendo garantidos alimentação, abrigo e atendimento de saúde e mais ainda tratando todos como iguais.
Assistência humanitária
O Governo do Maranhão montou uma estratégia para assistir os estrangeiros e as primeiras providências foram tomadas ainda no Cais de São José de Ribamar, onde foram realizados os primeiros atendimentos médicos, servidas refeições e água, com apoio da Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap), que administra o espaço em parceria com a Prefeitura de Ribamar.
A equipe multidisciplinar do Centro Estadual de Apoio às Vítimas (Ceav) prestou apoio psicológico. Em seguida, eles foram atendidos na Unidade de Pronto Atendimento do Araçagi, na madrugada de domingo (20), apresentando quadro de desidratação.
No decorrer desta semana, a Polícia Federal disponibilizou os formulários para dar entrada no pedido de refúgio ao Governo Brasileiro. Os voluntários do curso de Letras da Ufma e servidores do Governo do Estado que ajudaram no preenchimento dos formulários. A Sedihpop disponibilizou o serviço de fotografia para compor os documentos provisórios que serão expedidos.
Por meio da Secretaria de Estado da Saúde (SES), os africanos receberam atendimento oftalmológico, odontológico e cardiológico, todos realizados nas dependências do Ginásio Costa Rodrigues com o apoio de intérpretes da Cruz Vermelha. O atendimento de saúde aos africanos resgatados é fundamental, já que vieram de outro continente e, por esse motivo, existe o monitoramento e execução de medidas na área epidemiológica.
Enquanto a Polícia Federal define o status jurídico do grupo, o Governo do Estado continua prestando a ajuda humanitária necessária. O abrigo é disponibilizado pela Secretaria de Estado de Esporte de Lazer (Sedel), a alimentação, pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Social (Sedes) e atendimento de Saúde pela Secretaria de Estado de Saúde (SES).
Relembre o caso
O grupo é formado por 25 estrangeiros do Senegal, Serra Leoa, Guiné e Nigéria e mais dois brasileiros. Eles foram encontrados por tripulantes de uma embarcação de pescadores do Ceará a 120 km da costa maranhense. Eles foram recebidos, no cais de São José de Ribamar, por uma operação montada pelo Governo do Maranhão em conjunto com a Polícia Federal e Marinha do Brasil.
De acordo com relatos dos africanos, a viagem partiu de Cabo Verde em um catamarã em condições precárias, com motor de pouca capacidade e com a intenção era chegar ao Rio de Janeiro e São Paulo.
Durante o trajeto, o aparelho de GPS que estavam em poder dos tripulantes quebrou. Em seguida o motor da embarcação não suportou a extensão da viagem e logo parou. Por fim a opção de usar a vela do catamarã foi frustrada quando esse equipamento quebrou, atingindo a cabeça de um dos integrantes da tripulação. O grupo permaneceu ao mar durante 35 dias até serem encontrados.