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Piqui da Rampa. |
O projeto tem como objetivo implantar usinas solares sob gestão das comunidades quilombolas, permitindo a venda da geração de energia limpa para aumento de renda, aperfeiçoamento dos sistemas produtivos comunitários, além da contribuição para a sustentabilidade ambiental. Trata-se de fonte de renda que se soma à produção agroextrativista, diversificando e fortalecendo a economia local.
Piqui da Rampa surgiu na década de 90, com a organização dos moradores e a fundação da Associação Comunitária de Piqui da Rampa, promovendo a união e a defesa dos direitos dos quilombolas. O nome “Piqui da Rampa” é uma referência ao grande número de árvores de piqui que existiam na região quando foi ocupada. Walter dos Santos, uma das vozes mais respeitadas do quilombo, foi o anfitrião do encontro. Orgulhoso, conduziu a comitiva por rios, áreas agrícolas e potenciais locais para instalação das usinas, destacando a beleza natural e o trabalho coletivo da comunidade.
O que mais chamou a atenção dos visitantes foi o modelo de autogestão local. A Cooperativa Agroextrativista, a casa de Farinha e o Centro de Comercialização Quilombola, com freezers repletos de polpas de frutas, são exemplos de empreendedorismo solidário. A trajetória da comunidade é marcada pela luta por autonomia. Segundo Walter, no início dos anos 2000, sem acesso à energia elétrica, escola ou serviços básicos, a organização do quilombo foi essencial para a sobrevivência e resistência do grupo. O apoio do então governador José Reinaldo foi fundamental para transformar essa realidade e promover dignidade. Apesar dos avanços, a comunidade ainda enfrenta muitos desafios.
“Esse projeto vai fazer com que o quilombo Piqui da Rampa sirva de exemplo para outros quilombos do Maranhão e do Brasil. A gente saiu da corrente, mas ela continua tentando nos prender. Agora, com o Raízes Solares, queremos a nossa independência financeira dentro do quilombo. Com isso, a juventude vai parar de ir embora, de cortar cana longe. Vai poder viver aqui, onde tem raiz, onde nasceu”, disse Walter, emocionado, arrancando aplausos da comunidade e dos visitantes.
De acordo com o Censo do IBGE de 2022, o Maranhão é o estado brasileiro com o maior número de localidades quilombolas, totalizando 2.025 comunidades. O Quilombo Piqui da Rampa foi escolhido não por acaso, mas porque representa hoje um modelo de organização comunitária, sustentabilidade econômica e força cultural.
Exemplo para o país
Com gestão sólida, lideranças atuantes e profundo enraizamento identitário, a comunidade encarna os princípios que norteiam o projeto: energia limpa aliada à construção de autonomia financeira. “A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam”, destacou Loroana Santana, diretora técnica da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (ANATER) sob impacto da visita. “Estamos saindo daqui reconectadas e com ainda mais disposição de buscar parcerias. O Piqui da Rampa pode, e deve, ser exemplo para todo o país”, destacou, garantindo o compromisso da instituição.
O diferencial do Raízes Solares está no modo como é construído: ouvindo as comunidades, respeitando seus tempos, saberes e modos de vida. “Não podemos interferir na cultura, ela é o quarto pilar da sustentabilidade”, destacou Ruy Saturnino Ruas, diretor da empresa JSN Energia. Para ele, a energia solar não é só tecnologia, mas autonomia: “Cada cidadão pode ser produtor de sua própria energia. Isso descentraliza o poder, barateia custos e fortalece a comunidade”.
Fraga Araújo, superintendente da SEDEPE, reforçou que o projeto é apenas o começo: “vocês têm uma riqueza enorme. Mas para cuidar da terra e do meio ambiente, é preciso ter acesso à tecnologia. É isso que queremos garantir”. Após a escuta realizada junto à comunidade, o próximo passo será a adequação técnica do projeto às suas necessidades específicas, seguida da apresentação da versão final ao ministro do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, que tem apoiado a iniciativa desde o início. A articulação foi conduzida pelo assessor de Projetos Especiais da SEDEPE, Augusto Lobato.