terça-feira, 23 de abril de 2019

Bita do Barão cresceu com méritos de pai de santo, mas não chegaria onde chegou sem a ligação com José Sarney

Bita do Barão e José Sarney.
Não se discute a importância do pai de santo Wilson Nonato de Souza, conhecido como Bita do Barão – falecido na semana que passou – no universo da Umbanda no Maranhão, nem que ele foi, de longe, o mais destacado nome do Terecô, uma variação da Umbanda intensamente praticada na região Leste do estado – Codó, Caxias, Timon, por exemplo. É fato incontestável que do seu terreiro em Codó, pomposamente batizado “Palácio de Iansã”, ele reinou absoluto por mais de meio século, ganhou projeção nacional, chegando a ser apontado por alguns como um dos mais importantes líderes umbandistas do País. Nenhum reparo a esses méritos. Ao mesmo tempo, não há como contestar nem sequer discutir que muito, mas muito mesmo, da importância que Bita do Barão alcançou e cultivou com raro talento foi fruto da sua relação com o ex-presidente José Sarney (MDB) e sua família. Ambos mantiveram uma convivência tão próxima e tão intensa, no plano religioso, familiar, folclore, político, que correu o Brasil ao longo de muitos anos. Bita do Barão viveu e morreu como o pai de santo-conselheiro da família Sarney.

Bita do Barão e José Sarney são contemporâneos, e a relação que construíram começou provavelmente durante a campanha para o Governo do Estado em 1965. Durante suas incursões pelos mais diversos recantos do Maranhão em busca de votos, José Sarney conheceu e se afeiçoou a diversas figuras diferenciadas entre políticos, empresários, sacerdotes, artistas, intelectuais, ou simplesmente pessoas destacadas por suas atitudes, seus talentos ou sua religiosidade, enfim, por qualquer traço que os tornassem ímpares, diferentes dos demais. O melhor exemplo desse traço da personalidade de José Sarney foi Moacir Neves, um dos seus amigos mais próximos, que unia um talento excepcional para os negócios a uma forte vocação para exibir sua veia folclórica, principalmente quando assumia a condição de vidente, tendo previsto, com mais de uma década de antecipação, que José Sarney seria presidente da República. E são poucas as réstias de dúvidas de que o pai de santo codoense se enquadra com precisão absoluta nesse universo que tanto fascina o ex-presidente da República, um católico roxo, que confia piamente na proteção divina, reza contrito e fervoroso, e cultiva relações fortes com a cúpula conservadora da Igreja Católica brasileira.

Qualquer investigação simples na linha do tempo certamente encontrará que – sem discutir o seu destaque na seara do Terecô -, Bita do Barão impulsionou sua projeção à medida que foi se consolidando com jogador de búzios para  José Sarney no campo político. Esse viés da relação levou muitos políticos e empresários de peso a buscar vidência e proteção de santos no Palácio de Iansã, dando ao babalorixá um tamanho que ele certamente não teria sem a marca Sarney espalhada no seu terreiro colorindo sua biografia. Nas asas dessa relação, Bita do Barão usou seu talento nato excepcional para a promoção pessoal, construiu uma trajetória de muito sucesso e ganhou muito dinheiro, a ponto de dar-se o luxo de usar Botox para falsear a idade, de viver coberto de ouro e de alimentar a lenda (?) segundo a qual que teria um baú cheio de joias, como aqueles que instigaram a imaginação nos filmes de piratas caribenhos. Muito inteligente, com muita perspicácia, sempre encontrou meios de alimentar rumores a seu respeito, mas com o cuidado extremo de esconder a verdade a todo custo.

Por seu turno, José Sarney jamais negou ou sequer minimizou sua relação com Bita do Barão, mas sempre encontrou formas de mostrar que era seguido e não seguidor. Sempre deixou passar a impressão de que Bita do Barão era uma das suas pontes com o eleitorado umbandista. Nessa linha, Roseana Sarney (MDB) manteve e reforçou a relação, ampliando ainda mais o poder de fogo do babalorixá, que em momentos de campanha sempre vinha a público para anunciar que, segundo os santos consultados no seu terreiro, a filha de José Sarney venceria a eleição. Errou feio em 2006 e em 2018, duas eleições em que Roseana Sarney foi derrotada na disputa para o Governo do Estado – com a diferença de que 2018, quando as pesquisas apontaram que a derrota da ex-governadora era irreversível, ele entrou no circuito para prever o insucesso da ex-governadora nas urnas.

Em resumo: Bita do Barão se tornou o “rei” do Terecô com muitos méritos, pela sua religiosidade, pela sua capacidade de liderar, pelo talento superior de chamar a atenção e amealhar prestigio e fortuna. No entanto, os píncaros que alcançou foram, sem sombra de dúvida, frutos bem cultivado da produtiva ligação com o ex-presidente José Sarney.

Da Coluna Repórter Tempo/Ribamar Corrêa.

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